Cores quentes


"Poderás tu ajuntar as delícias do Sete-estrelo ou soltar os cordéis do Órion? Ou produzir as constelações a seu tempo, e guiar a Ursa com seus filhos? Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o domínio deles sobre a terra?" Jó 38:31-33
Hoje o Pintor em minha janela surpreendeu-me com uma nova obra. Um quadro de cores quentes, pinceladas vigorosas e uma linha em tons sombrios separando o céu azul da terra ardente. Diferente dos dois últimos quadros que pintou em minha janela, um em tons suaves e outro no qual depositou ouro sobre veludo azul.

Os únicos elementos iguais na tela são as silhuetas dos edifícios feitos pelo homem, estáticos e previsíveis. É fácil saber como estarão amanhã, mas o mesmo não pode ser dito da obra do Pintor em minha janela. Amanhã ele traz nova surpresa. E isso usando sua técnica peculiar de pintura em camadas, ou layers, como a utilizada no desenho animado.

Quando o Pato Donald caminha na tela, as casas logo atrás vão passando em uma velocidade, as montanhas ao fundo mais devagar, as nuvens no horizonte bem devagarinho e o sol nascente parece fixo. Os artistas desenham sobre diferentes folhas de material transparente que sobrepostas e movimentadas em velocidades diferentes criam a ilusão de profundidade. Da próxima vez que viajar de carro, olhe pela janela lateral e verá o mesmo efeito.

Mas enquanto os desenhistas pintam lâminas transparentes sobrepostas, o Pintor em minha janela pinta lâminas cronológicas. Vê aquele prédio ali? Ele estava a uma fração de tempo de sua imagem que chegou à câmera. As nuvens existiram poucos segundos antes da imagem que eu enxergava. Quando bati a foto elas já não existiam mais assim. E aquela explosão de fogo no horizonte — o Sol — aconteceu, na realidade, oito minutos antes de eu apertar o botão. Incrível, hein? Uma pintura em camadas de tempo! Só o Pintor em minha janela para conseguir tal feito e efeito.

Nosso Sol está a uns 150 milhões de quilômetros, portanto o Sol que você vê — é melhor não olhar diretamente para ele — é o Sol do passado. É sua imagem que viajou tudo isso antes de chegar na aparência que você vê. Quando você olha para o céu, não vê a coisa como é, mas como foi e ainda em camadas cronológicas não simultâneas.

Sabe aquela estrelinha que parece ao lado da outra? O que você vê é como ela era há milhares ou milhões de anos, e a outra que vê simultaneamente existiu ali milhares ou milhões de anos antes ou depois da primeira. Muito louco, hein? Dá para acreditar nas coisas que você vê? Não dá.


Veja esta outra estrela que já foi como nosso Sol. Hoje está moribunda. Hoje?! É chamada de Nebulosa Olho-de-Gato, mas é uma estrela que está morrendo. Está?! Bem, era uma estrela morrendo há mais de 3 mil anos, que foi o tempo que levou para sua imagem chegar às lentes do telescópio Hubble. Então o que você vê é o que a estrela foi e nosso Sol será. Mas não se preocupe. Quando o Sol morrer você só vai descobrir oito minutos depois, que é o tempo que sua luz leva para viajar até aqui.

E então, será que você continua acreditando nas coisas que vê, ouve, cheira ou sente? Nem eu. É melhor acreditar no Pintor em minha janela, o único capaz de pintar com as tintas das eras aquilo que pensamos que é, mas já foi. Quando meus filhos eram pequenos eu sempre falava a eles desse Pintor e de sua obra. Hoje eles são grandes o suficiente para acreditarem no que quiserem, mas mesmo assim eles acreditam mais no Pintor do que na pintura.

Qual a cor das nuvens?


Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. 1 Co 2:9

Outro dia apresentei a você o Pintor em minha janela. Isso mesmo, aquele que todos os dias cria uma nova obra de arte a partir de um único motivo: a cidade que vejo de minha janela. Você já deve ter percebido que não me canso de falar desse Pintor ou de sua habilidade, não é mesmo?

Pois é, hoje resolvi dar mais uma olhadinha em seu trabalho. Ele estava lá, pintando outra vez. Nunca consigo ver seu trabalho acabado, mas tampouco o vejo inacabado. É incrível que alguém consiga pintar assim — a cada nova pincelada a perfeição vai ficando mais perfeita ainda.

Ao contrário do ouro e anil que usou no quadro de um mês atrás, hoje sua paleta é azul suave. Até me sinto um pouco azul assim. Calmo, sereno, tranquilo. Azul claro. Mas há nuvens brancas pairando no alto da tela. Brancas? Você já viu uma nuvem branca? Não há nuvens brancas. O pintor nunca as pinta assim.


Um diálogo assim acontece no filme Moça com brinco de pérola, uma pintura cinematográfica baseada em uma novela de Tracy Chevalier. O tema do filme é o quadro de mesmo nome pintado por Johannes Vermeer, por volta de 1660 e considerado a "Mona Lisa holandesa".

Em um lampejo de percepção, a moça descobre que há muito mais que uma mera cor branca em uma nuvem. Para você ter uma ideia, apenas na nuvem da foto que tirei com uma webcam de baixa resolução há 19.807 cores. Mais de 50% das 35 mil cores registradas na foto inteira aparecem na nuvem.

Em cada nuvem da vida há também muitas cores envolvidas. É preciso um olhar atento para percebê-las e se deleitar com elas. Geralmente, devido à baixa resolução de nosso pensamento, aos limites de nossa percepção e ao embotamento de nossa visão deixamos de perceber aquilo que está fora da faixa mais popular do espectro. Então é preciso colocar óculos especiais para ver. É preciso olhar através das lentes do Pintor em minha janela.

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